V u l g a t a b l o ! d


terça-feira, 25 de setembro de 2007

CAVE PULCHRUM

"All the majesty of a city landscape
All the soaring days of our lives
All the concrete dreams in my mind's eye
All the joy I see thru these architect's eyes"
David Bowie

E aqui nos colocamos diante do espaço espetacularizado. Quem possui esta folha branca, esta vacância transparente, este amplo chão onde o arquiteto irá erguer imensas esculturas ocupáveis/habitáveis?

Que não se deixe alienar na deslumbrante beleza o olhar dos passantes!

CAVE PULCHRUM!

Se por um lado nossos sentidos podem celebrar a plasticidade desses prédios, cuja morfologia dissimula o princípio da funcionalidade em detrimento do gozo estético, por outro nosso intelecto DEVE SEMPRE indagar qual é a composição de forças econômicas e quais são os princípios político-urbanísticos que estão por trás desses empreendimentos monumentais.

Nunca antes as edificações corporificaram tão radicalmente o conflito entre projetos civilizatórios antagônicos como agora em nossa "triunfal" pós-modernidade, repleta de STARchitects (Gehry, Nouvel, Ando, Hadid, Lynn, etc).

De um lado o capitalismo republicano (corporativo, ecoclasta, predatório, massificante), herdeiro de projetos monárquicos, teocráticos, totalitários e fascistóides, cujo objetivo é transformar as massas "humanas" em parque temático gerenciado por "super-homens" (supermanangers supereficientes turbinados por superdrogas: viagra, prozac, propecia, etc.).

Do outro lado o capitalismo liberal-democrata e a social-democracia, ambos ecocratas e cosmopolitas, ambos herdeiros de projetos humanistas (iluminismo + enciclopedismo + marxismo + freudismo) mas tentando superar diferenças internas e estabelecer um equilíbrio sensatamente regulamentado entre projetos comunais, coletivos e individuais, pra viabilizar a colaboração internacional entre governos não-fascistóides e não-massificantes.

No entanto, apesar do claro recorte identitário dessas duas superestruturas, será necessário um imenso fôlego algébrico para mapearmos as conjunções, as "gray areas", os territórios ocupados e dominados por ambas, nos quais ocorre um PROMÍSCUO exercício de poder (como bem se configura agora na questão do Paquistão: quem quer que seja o sucessor democrata de Bush, terá que manter negociações estratégicas com Musharraf, notório ditador).

Enquanto as grandes mentes se ocupam em infinitos debates tentando desatar este nó cratológico (problematizando seus desdobramentos éticos para, quem sabe, minorar a insuportável tensão antinômica que sempre agrega as boas intenções humanistas às práticas anti-humanistas), a "força da grana que ERGUE e DESTRÓI coisas belas" continua INCÓLUME exercendo seus "podres poderes".

O Unibanco embarca radicalmente no marketing pavloviano (vide o tatibitati de suas campanhas publicitárias); a Coca-Cola (que além de reclamar para seu principal produto um estatuto ontológico semelhante ao da água) passa a BLEFAR DESCARADAMENTE defendendo um multiculturalismo canalha; o McDonald's patrocina a luta contra o câncer às custas das excelentes vendas de seu "cardápio" cancerígeno; a Microsoft (seguindo os passos dados pela Standard Oil, no final da década de 80 do séc. XIX) cria todo tipo de obstáculo às suas concorrentes; a TV aberta torna-se o palco da derrocada da direita católica (Globo) e da ascensão da direita evangélica (Record) e continua ainda caricaturando e desmobilizando a luta contra as corporações, reduzindo qualquer empenho combativo à mero quixotismo ingênuo ou esquerdice paranóica.

Mas, de fato, como é que ela poderia fazer campanha contra os anunciantes que a sustentam?

E o que é que tudo isso tem a ver com a arquitetura?

TUDO.

Porque muito antes de ser um empreendimento comercial, a arquitetura inventa não apenas o espaço mas sobretudo o homem que irá ocupá-lo. E ela, assim como o cinema, depende de grandes somas pra que possa se concretizar.

Então é absolutamente necessário, antes de darmos partida à qualquer elocubração analítica e semiótica sobre forma e função, avaliarmos cuidadosamente os interesses em jogo e, como fez Carl Bernstein no caso Watergate, SEGUIR A GRANA.

Marcadores:

    recomende este post clicando nos links abaixo:
    Add to: Del.icio.us Add to: Yahoo Add to: Google Add to: Technorati
    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
webdesigner : Marlos Salustiano R.©2007 'AKROMATA'
Page copy protected against web site content 

infringement by Copyscape